Receber o diagnóstico de autismo na vida adulta pode ser como se, de repente, alguns fios soltos começassem a, finalmente, se conectar. Como se antigas perguntas, há muito sem resposta, finalmente encontrassem um sentido. Passamos a enxergar tudo por um novo ângulo. Um ângulo que sempre foi nosso, mas que nos ensinaram a ignorar, julgar ou temer.
Depois de tanto tempo tentando caber em moldes que nunca fizeram sentido, começamos a entender, aos poucos, o nosso verdadeiro lugar no mundo. E com isso vêm novas perguntas: Quem sou eu, afinal? O que isso muda? O que faço agora?
A mente fica tentando encaixar, com muito esforço, esse novo quebra-cabeça que muda o desenho inteiro da nossa vida. E essa redescoberta de si é parte do caminho. Não posso te dizer que ela será fácil ou que haverá uma fórmula mágica pra passar por isso incólume. Mas consigo te falar que há caminhos possíveis pra reformular o desenho da vida e pintar um novo quadro pro seu destino. Agora uma tela mais sua, com as suas cores, o seu tipo de arte e o seu olhar pro mundo. Não o que te disseram que seria bom pra ti. Mas o que tu realmente sente que é o que te faz bem.
O diagnóstico não é um fim. É um começo. E, para muitas pessoas, pode representar um marco importante de compreensão, pertencimento e reconstrução. Foi assim pra mim, pode ser assim pra você.
Ainda que não traga uma solução mágica, ele pode ser o início de uma jornada mais sua, mais autêntica. E uma das chaves para tornar essa jornada menos sobrecarregada e mais digna é conhecer seus direitos e se organizar para que eles sejam efetivados.
Seus direitos não são favores. Não são concessões. Não são gentilezas do mundo. Eles são seus. Por lei. Por justiça. Por dignidade.
Você não precisa se sentir envergonhado, desconfortável ou culpado por exigir aquilo que te protege, que te ampara e que te permite viver com mais autonomia, menos sobrecarga e mais qualidade de vida.
Você não precisa (e nem deve) buscar ser aceito. Aceitação é escolha dos outros. O que você merece é respeito. E respeito é inegociável.
Pra mim, esse ponto foi essencial. Sou Mariel. Autista, advogada e especialista em Direito para Pessoas com Autismo. Mas por muito tempo, essa resposta me escapava: afinal, quem eu era?
Foi só aos 28 anos, ao receber o diagnóstico, que parei de negar a minha própria natureza. Ali começou a jornada de aceitação, de entender meu lugar no mundo e de buscar uma vida com menos sobrecargas sensoriais, menos meltdowns ou shutdowns, compreendendo que eles seriam parte de mim, mas não me definiriam.
Fui estudar. Me especializei. E nesse processo, descobri meu propósito: falar com os “meus”. Dizer que é possível uma vida menos caótica, que começa com o reconhecimento da nossa identidade e passa pelo conhecimento dos nossos direitos.
Ainda assim, eu resistia a me expor. Até que um dia, meu irmão Álvaro (também autista) me disse:
“É difícil entender que tenho algum tipo de direito, porque a gente não vê pessoas como eu falando sobre isso.”
Essa frase foi meu empurrão. Obrigada por isso, Álvaro.
Se até hoje não se via autista adulto e advogado falando sobre nossos direitos… agora vai ter.
Este espaço não existe só pra te informar. Ele existe pra te instrumentalizar. Pra te fortalecer. Pra te lembrar, sempre, que não há nada de errado em ser quem você é.
E eu quero que você saiba: eu estarei sempre por aqui.
Pra ajudar, pra esclarecer, pra caminhar junto, pra te apoiar nesse processo contínuo de fortalecimento, de luta e, acima de tudo, de construção de uma vida mais justa, mais leve e verdadeiramente sua.
Que você nunca abra mão de quem você é. E que lute, sempre, não pra ser aceito, mas pra ser respeitado.
Você merece. Sempre mereceu. E agora você sabe disso.
Sigamos juntos!