Tem uma coisa que muitas pessoas não entendem sobre o que chamam de “crise” em pessoas autistas: a crise nunca começa no momento em que ela explode. Aquela cena que parece repentina, em público, numa fila de supermercado, por exemplo, não é o início de nada. É o fim. É o corpo pedindo socorro depois de muito tempo sendo ignorado.
A crise começa, na verdade, todas as vezes que a gente negligencia nossos limites. Ela começa em cada minuto a mais que suportamos um ambiente barulhento sem abafadores. Em cada luz branca estourando na cara sem óculos escuros. Em cada conversa atravessada onde a gente acha que tá tudo bem, mesmo que estejamos extremamente confusos por a pessoa estar fazendo uma coisa e falando outra completamente diferente. Em cada limite que a gente ultrapassa achando que aguenta mais um pouco.
A crise começa no silêncio. E vai crescendo por dentro.
E é por isso que se conhecer, se respeitar e conhecer os seus direitos é tão fundamental.
Quanto antes você souber reconhecer os sinais de sobrecarga, menos vai precisar enfrentar o colapso. Quanto mais você tiver ferramentas, suportes, proteções e estratégias, menos exausto chegará no final do dia.
Significa que há “cura” ou uma solução mágica pra evitar crises no autismo? NÃO! ISSO NÃO EXISTE!
Significa que há caminhos possíveis de se proteger, se respeitar e se preservar. ****
E quando eu falo em se preservar, eu falo também sobre entender que autismo pressupõe suporte. Se você não precisa de suporte, talvez o que você tenha não seja autismo. E tudo bem. Mas se é autismo, então você tem direito a apoio. E esse direito nasce da NECESSIDADE ESPECIAL inata à condição autista. E isso não te faz menos capaz.
Você tem direito a atendimento prioritário, a adaptações na faculdade, a suporte em concursos, a redução de jornada de trabalho e tantos outros! E você pode (e deve) se apropriar desses direitos que são seus por lei, para garantir uma vida mais justa, mais viável e mais equânime em sociedade.
Porque quando você conhece seus direitos, você para de achar que depende de favor ou boa vontade dos outros e passa a construir uma vida mais viável, mais segura e um pouco menos sobrecarregada.
Não espere o corpo gritar pra validar o que ele já está falando baixinho há tempos.
Você não precisa viver no limite e colapsar pra ser levada a sério.
Buscar informação em fontes confiáveis, conhecer os seus direitos e buscar fazer com que eles sejam respeitados também é uma forma de autocuidado.
Cuide de você. Antes que doa.
Seguimos juntos,
Mariel